segunda-feira, 14 de julho de 2008

Não vá, papai!

Era um dia de grande reunião. O auditório estava quase repleto, e havia uma imensa expectativa no ar. Pudera! Que grande orador ia falar. Era um homem ilustre e famoso!

E, antes do início da reunião, um senhor começou a procurar um lugar. Ele queria assentar-se lá na frente, e estava com uma menina no colo. A garotinha devia ter uns 5 anos e era muito bonita: clara, bem arrumada, e de olhar meigo e puro. E ele conseguiu um lugar, e assentou-se com a menina no colo, ainda.

Em poucos minutos o auditório lotou. Não havia nenhum lugar mais. E a reunião começou: o orador logo prendeu a atenção de todos. Ninguém se mexia. Eles não queriam perder nenhuma só palavra. Mas o que será que o orador estava falando que era tão interessante?

Era sobre a influência. Dizia que nós recebemos muitas influências. Por exemplo: um homem ilustre influencia outro homem. Uma pessoa simples, também influencia, com a sua simplicidade, a outra pessoa. Um mendigo, às vezes, até pode influenciar uma pessoa rica e famosa. Uma criança influencia outra criança, e as crianças assimilam o que a outra tem de bom. Influência.

Bem diz a palavra de Deus: "As más conversações corrompem os bons constumes". Influência. Um pai influencia o filho, a filha e a esposa.

Às vezes, o pai não percebe a grande influência que ele exerce, mas, não é que de repente, na frente das visitas, seu filho comete uma falta tão grave, que ele se assusta, e fica todo bravo... Mas também percebe que aquela falta que o irritou tanto é exatamente a que ele escondeu do seu filho. É a sua falha! Ele viu no filho aquilo que ele mais detesta, e que esconde dos outros. Pois foi precisamente aquilo que influenciou o seu filho. Então ele bate no filho. Que pena!

E há quem diga: eu não influencio ninguém, e não me deixo influenciar.

E aí, o orador parou e fixou os olhos naquele homem com a menina bonita no colo, pensou e disse: estão vendo aquela menininha ali? Até ela, tão linda e pequena, exerce muita influência. Quando o orador apontou para a menina, no meio daquele imenso auditório repleto de gente, o pai se levantou como se tivesse sido empurrado por uma mola, foi até a frente, e gritou: "Isto é verdade mesmo!"

O público ficou silencioso, o pregador meio embaraçado e o auditório curioso.

- Por que será que aquele senhor com a menina no colo gritou?!

E o orador percebeu a curiosidade de todos, e então perguntou:

- Por acaso o senhor poderia explicar o motivo de tamanha explosão?

O pai também estava meio confuso. Ele mesmo não esperava uma reação assim tão grande diante de todos, e estava meio assustado. Então olhou para os lados, depois para a filhinha no seu colo, e aí começou a falar:

- Sabem? Eu tinha um grande emprego. Eu era respeitado e querido na companhia. Mas um dia, recebi influências de uns amigos que me pareciam muito bons. Eles eram despreocupados, alegres e felizes. Mas, aos poucos, conseguiram me levar para uma casa de bebidas, e disseram: "Aqui é muito bom. A gente se esquece da vida. É divertido. Pra que só trabalhar, não é? Não somos escravos." A princípio, eu só olhei, mas depois, entre risos e piadas, eu bebi um pouco, e mais um pouco, e logo não conseguia mais voltar para casa sem antes sentir o cheiro da bebida, sem antes ouvir as risadas dos amigos e suas piadas. Eles eram tão engraçados! E nesta época, eu tinha uma linda filha!

E a voz daquele pai, agora, parecia um soluço.

- Minha filha tinha dezenove anos. Que filha! Boa, meiga, carinhosa, obediente, com o coração terno, tão terno como eu nunca mais vou conhecer outro. Pois minha filhinha, quando via que eu não voltava para casa logo, ficava com medo de que eu estivesse bêbado, que caísse na rua, que me machucasse, então, todas as noites ela ia até aquela casa de bebidas, e ficava na porta me esperando, e, de vez em quando, ela punha seu rostinho lindo pra dentro e dizia: "Vamos, papai? Vamos, paizinho, eu vim te buscar." Ela ficava do lado de fora, mas algumas vezes, eu a fiz entrar naquele lugar.

E o pai chorou, e a platéia também.

- E do lado de fora da casa de bebidas, chovia, ventava e fazia frio, muito frio. E quando ela já estava toda gelada, arriscava a dizer novamente, com sua carinha pálida, humilde: "Eu vim te buscar, paizinho." E quando eu saía, ela ia comigo para casa, e me abraçava, como que querendo me proteger. Mas aquelas noites em claro, no frio e na chuva, deram para minha filha um resfriado muito forte. E o resfriado nunca foi tratado, porque eu precisava beber. E o resfriado se transformou numa tuberculose. E a minha filha meiga, amorosa e obediente, um dia me chamou e disse:

- Paizinho, só há um caminho. Ele dá alegria e paz. Por que você não o segue, papai?

- Qual é esse caminho, filhinha?

- É Jesus, papai. Busque-o. Pegue a minha Bíblia. Ela está embaixo do meu travesseiro. Aí você vai achar o caminho para você e para nossa família. Papai, eu estou indo, paizinho. Adeus.

- E morreu o meu anjo, a minha filha. E eu fiquei desconsolado e triste. Então, em lugar de ler a Bíblia, eu fui para casa de bebidas, para me esquecer dela. Só que agora, eu tinha medo da noite. Tinha medo de ir sozinho. Tinha medo de voltar pra casa sem ninguém para me proteger. Lembrava-me dela sem parar. Então eu tive uma idéia: comecei a levar comigo essa outra filhinha, e ela só tem 5 anos. E eu ia todos os dias com ela. Não foi suficiente a morte da minha filhinha querida. Eu estava cego. A influência dos amigos, e agora daquele ambiente eram muito grandes. Maior do que o amor pelas minhas filhas. E lá ia eu com esta filhinha, andando de noite pela rua, e voltando de madrugada. E uma noite, quando eu estava chegando com ela na casa de bebidas, ouvi uma gritaria que vinha de lá. Havia um alvoroço, e pessoas iam e vinham. Até a polícia chegou! Apressei meu passo. Anda, filhinha, mais rápido um pouco. - falei.

- Não posso, papai, estou com sono. Quero dormir.

- E a gritaria aumentava e eu estava fascinado. Queria saber o que estava acontecendo. Então eu puxei minha filhinha, quase arrastando-a pela mão, e consegui chegar até aquela casa maldita, e minha filha falou com uma voz que ninguém nunca ouviu na vida:

- Não vá, papai, por favor.

- Mas eu entrei com o coração duro.

- Não, não entre mais, papai. Papaizinho, não vá lá. E ela disse medrosa e timidamente: Jesus, Jesus! Ajuda o papai.

- Eu ouvi. Ela falou bem baixinho. E, de repente, senti um calor na minha mão, e olhei assustado. Alguma coisa estava me queimando. Olhei bem. Era uma lágrima quente que escorreu dos olhinhos da minha filha, e foi até a minha mão, queimando-a. Fui tomado de uma emoção descontrolada. Num relance percebi tudo o que havia feito. Por influência desta minha filhinha e daquela lágrima quente, o véu que havia nos meus olhos caiu. Olhei para ela. Como você é linda, filha! Eu enxerguei. Fiquei livre da escravidão. Num relance percebi todo o mal que estava fazendo para minha filhinha, para minha esposa e... Senti toda a culpa da morte da minha amada e meiga filha, que se sacrificou por mim. E eu senti no coração a lágrima quente e a palavra "Jesus, Jesus" que esta pequenina falou.

Depois que falou tudo isso, olhou para o público, ficou quieto um pouco, e continuou:

- Acho que os senhores entenderam agora porque eu dei aquele pulo com a minha filhinha no colo, não é?

Que silêncio constrangedor!

E a filhinha abraçou o pescoço do papai, com força, e ele ainda falou:

- Pois eu nunca mais tomei um gole sequer de bebida alcóolica. Atravesso a rua para não passar em frente daquela casa maldita. Há doze meses que eu não bebo mais, e nunca mais vou beber, tudo por influência das minhas filhinhas... E de Jesus. Senhor pregador, perdoe-me, mas eu não pude me conter, porque confesso, recebi a influência direta e dolorida das minhas filhinhas.

E todo auditório continuou num silêncio imenso. Então o pregador, muito sério, olhou para todos e disse:

- Está encerrada a minha palavra. Foi mais do que suficiente.

Papai, dos lábios de Jesus Cristo saíram estas palavras que foram registradas no livro de Lucas 10:21: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes às criancinhas".

Como são belas as criancinhas!

Que Deus ajude você, papai, neste seu dia, e que a sua influência possa levar sua esposa, suas filhinhas, seus filhos e seus amigos, para os braços eternos e amorosos do Senhor Jesus Cristo.

(De Benjamim Roth, adaptado para o Dia dos Pais, pela Tia Ester)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O surdinho

A meninada toda estava na rua. Como era divertido brincar com o surdinho!
- Sur-di-nho! Sur-di-nho! - chamavam os meninos.

E batiam nele de um lado e de outro. O menino surdinho até ficava tonto. Os garotos às vezes caçoavam tanto dele, mas tanto, que o surdinho corria pra casa, chorando, chorando. Um dia os meninos abusaram demais. Chegaram até a lhe dar tapas, pisar nos pés, beliscar e empurrar com tanta força que surdinho caía no chão.

Queria ir para casa, mas não podia... Os moleques o agarravam... Assim que conseguiu escapar, fugiu, deixando os moleques rindo e caçoando dele. Mamãe - vocês sabem como são as mamães - logo percebeu que alguma coisa não ia bem. Correu e abraçou Surdinho.

- Que foi filhinho, que foi?
Ele também abraçou a mamãe e chorou muito, muito. Depois enxugou os olhinhos, ameaçou um sorriso, jogou um beijo para mamãe e saiu. Ela estava fazendo o almoço e com gestos falou que ele não demorasse. Mamãe ficou em casa com um aperto no coração.

Surdinho passou escondido pela rua. Quando viu um menino, entrou num jardim até que o garoto sumiu. Olhou dos lados e não viu ninguém. Começou a correr, até ficar muito cansado. Daí começou a andar devagar. Estava tão distraído que nem sabia por onde andava. Seu coraçãozinho estava muito cansado. Sabem? Ele se achava fora da cidade. Longe, não?

De repente, Surdinho viu o trilho do trem. Começou a andar nele e a se equilibrar. Pulava nas madeiras que seguravam os trilhos. Achou tão gostoso brincar ali, sozinho, que até começou a sorrir. E pulava, pulava e ria bastante. Era a primeira vez que isso acontecia.

Sua mãe, lá em casa ficou aflita, e cada vez mais aflita. Lembrou-se do Surdinho, da sua tristeza, e pensou: "Está acontecendo alguma coisa com ele. Saiu correndo para a rua. Viu os meninos brincando.

- Hei, sabem do Surdinho?

- Não está em casa?

- Não, ele saiu e não voltou. Ajudem-me a procurá-lo.

Surdinho continuava correndo pelo trinho, rindo, rindo.

- Piuiiii! - apitou o trem, lá longe.

Mamãe ouviu aquele apito e gritou:

- O trem, o trem!

Ela correu em direção à linha do trem. Os meninos foram atrás.

- Piuiiiiiiii! - apitou o trem mais forte, mais perto.

De longe mamãe viu Surdinho pulando e o trem se aproximando. As crianças começaram a gritar. Ficaram desesperadas. Queriam passar na frente do trem. Mamãe, chorando, gritou:

- Filhinho!

O maquinista do trem viu o menino, tentou brecar, mas não deu tempo...

O Surdinho morreu! Mas morrer é simplesmente ir morar no céu, com Jesus, um lugar lindo e maravilhoso. Agora Surdinho estava feliz no céu. Agora ninguém caçoava dele e podia ouvir tudo, tudo. Ouvia a voz de Jesus, tão meiga e amiga.

Os meninos choravam arrependidos. Haviam maltratado tanto o Surdinho que ele fugiu para longe e o trem o matou. Agora o jardim perdeu a graça. A rua ficou triste sem Surdinho. As crianças não quiseram mais brincar na rua. Nunca mais caçoaram de outro menino. Nunca mais jogaram pedra num aleijado. Nunca mais riram de um bobinho. Nunca mais bateram num surdinho. Nunca mais, nunca mais.

E vocês? Têm tratato sempre com bondade e alegria as pessoas que são aleijadas, ou têm algum problema? Quando você vir alguém assim não critique nem dê risadas. Ao invés de você criticar, ore por ele. Jesus ensinou claramente que devemos amar uns aos outros. Quando alguém abusa de nós, devemos pagar o mal com o bem. Jesus promete recompensar-nos se assim fizermos.

Fonte: Tia Ester